quarta-feira, 9 de setembro de 2009

O universo feminino: revistas in pink

Por volta do século XVII, começaram a circular pela Europa os primeiros jornais femininos, que tiveram uma distribuição bastante razoável para a época. Com o aparente sucesso desses periódicos junto às leitoras, surge, em 1693, na Inglaterra, a primeira revista feminina O Mercúrio das Senhoras. Em seguida, nascem outros tantos que apresentavam, mais ou menos, o mesmo modelo: literatura e consultório sentimental. Entre eles, pode-se destacar O Diário das Senhoras (1704), Magazine das Senhoras, Museus de Belas Letras e Companhia de Entretenimento para o Sexo Frágil (1770).

Nessa mesma época, surgem vários veículos de entretenimento como The Queen, na Inglaterra, no qual a própria Corte é vulgarizada. Também a partir de 1770, a Itália publica os seus primeiros periódicos femininos, que colocavam a “mãe num pedestal, como pedra angular da família”. Em 1774, nasce a primeira revista feminina alemã, Akademie der Grazien, seguindo os moldes já existentes. Mas, no começo do século XVIII, o Journal fur Deutsche Franen acrescentou às poesias e charadas tradicionais uma novidade: o horóscopo.
Entretanto, foi na França que a imprensa feminina mais floresceu, servindo, posteriormente, de modelo para a brasileira, que viria a surgir no século XIX. Os franceses disseminaram a estratégia de encartar nas revistas os moldes em papel, cuja venda avulsa já existia desde o século XVIII.

Até a metade do século XIX, a imprensa feminina era mais voltada para a elite, mas, devido a vários fatores, entre os quais a evolução das editoras como negócio, nos Estados Unidos, o perfil das leitoras é modificado. Edward Bok, diretor da revista Lady’s Home Journal (1893), por exemplo, impingiu ao periódico o conceito de que “a mulher devia ter idéias práticas, uma certa ambição, melhor aparência física e o gosto mais apurado”. É nessa época que surgem, também nos Estados Unidos, periódicos que valorizavam a vida prática como Good Housekeeping e McCall’s, ambas na faixa dos 7 milhões de exemplares mensais.

Até a década de 30 deste século, as capas das revistas eram bem simples e, muitas delas, nem ilustrações possuíam. A inovação chegou com o lançamento de Marie Claire, na França, em 1937. Nela, vinham estampadas, todas as semanas, um rosto de mulher bonita, jovem e alegre. Além disso, constituía um produto diferenciado por ser a primeira a ter um nome personalizado e um visual moderno, ou seja, páginas mais limpas e tipos maiores para facilitar a leitura.
Aos poucos, as cores foram sendo, também, incorporadas à imprensa feminina. O espaço destinado a fotos cresceu bastante, tanto em tamanho como em quantidade. E as fotografias de moda — que antes eram estáticas — ganharam movimento e ares de fantasia, adquirindo, mais ou menos, o formato em que se apresentam atualmente.

À medida em que as revistas femininas se fortaleciam, os suplementos dos jornais voltados as mulheres foram perdendo espaço. Ainda na década de 30, explodiu, em vários países, a disseminação de revistas sentimentais como Confidence. Essas publicações prepararam o público para a chegada das fotonovelas, que se daria dez anos depois, durante a Segunda Guerra Mundial, e cujo objetivo era, essencialmente, entreter um público bem especial: as mulheres.
Enquanto a imprensa feminina fervilhava na Europa, no Brasil, ela só apareceu, no início do século XIX. Chegando com dois séculos de atraso, a imprensa feminina brasileira nasceu com o lançamento de O Espelho Diamantino, em 1827. Por apresentarem um conteúdo bastante diversificado, algumas revistas brasileiras receberam o nome de “armazém”, como por exemplo, O Armazém de Novellas Escolhidas, de 1851.
Ainda na metade do século XIX, começaram a despontar alguns órgãos defensores dos direitos femininos, eram os primeiros jornais feministas do país. Entretanto, eles não diferiam muito dos outros, porque traziam, entre outras coisas, literatura, moda e entretenimento. Mas, em 1888, em São Paulo, Josephina Álvares de Azevedo, irmã do poeta Álvares de Azevedo, lançou um jornal cujas idéias eram mais contestadoras. Favorável ao divórcio, Josephina achava um absurdo idéias como: “no homem residirá sempre o princípio da autoridade”.
Como a Imprensa feminina servia de canal de expressão para as sufocadas vocações literárias das mulheres, muitos periódicos acabaram nascendo em função da literatura. Este é o caso de A Mensageira, fundada pela primeira mulher a entrar para a Academia Paulista de Letras, Presciliana Duarte de Almeida, em 1897.

O primeiro grande periódico feminino, A Revista Feminina, foi fundado, também, por uma mulher, Virgiliana de Souza Salles, em 1914. Circulando até 1936, esta foi o melhor exemplo de aliança entre imprensa, “indústria nascente e publicidade”. Na década de 20, registra-se a existência de revistas simpatizantes do anarquismo, como A Renascença. Apesar de não terem apresentado grande repercussão, elas mostraram a força das vozes femininas no país, pois ocuparam mais espaço na imprensa geral. Ainda nessa década, surgiu a Única, primeiro periódico dirigido por uma mulher, Francisca de Vasconcelos Bastos Cordeiro, que assinava o expediente como “diretora-proprietária”. Dedicada à literatura, arte, elegância e sociologia, esta publicação mensal contava com colaboradores de peso como Cecília Meireles, entre outras personalidades atuantes na literatura brasileira da época.

Oito anos depois, foi lançada outra revista dirigida por uma mulher, Ivete Ribeiro, Brasil Feminino. Este periódico, voltado a um público de classe média, “incentivava as mulheres a trabalhar fora de casa e tinha uma seção de bons exemplos”. Depois de três décadas de reivindicações, as mulheres foram legitimadas como cidadãs, ganhando direito ao voto. A falta de bandeiras provocou uma diminuição no movimento, que — após transferir seus interesses para outras questões mais voltadas à sociedade em geral — adquiriu um tom moralista e conservador .
Por volta de 1950, a fotonovela chegou ao Brasil e, dentro de um contexto de sentimentalização, impressionava o público feminino com suas histórias sobre problemas amorosos. Dentre as várias publicações desse tipo, podemos destacar Sétimo Céu, que durou muitos anos, até o gênero cair no desinteresse das leitoras.

A 18 de junho de 1952, nasceu a Capricho, que iniciou a grande imprensa feminina brasileira. Lançada em São Paulo, pela Editora Abril, esta revista marcou, também, a vinculação dos conceitos “imprensa e consumo”. Em 1961, a mesma editora lançou Cláudia, que foi, aparentemente, a primeira publicação brasileira com nome personalizado, conseqüência da tendência surgida na França, em 37.

Na década de 60, o sexo foi se insinuando, lentamente, nas revistas brasileiras. Tratada em poucas matérias, a questão sexual era mais freqüente quando se falava em métodos de controle de natalidade. Nos anos 70, ocorreu a disseminação da pílula anti-concepcional, originando uma imensa curiosidade sobre sexo. Assim, surgiram publicações como Nova, que — lançada em 1973 — era dedicada a mulher “solteira ou casada com ambições profissionais e de uma certa liberação sexual”.

Com o lançamento de Carícia, em 1975, a Editora Abril se consolidou como especialista em jornalismo feminino, possuindo o maior número de títulos na história do Brasil (Cláudia, Capricho, Nova, Carícia, Manequim, entre outras). Atualmente, a Abril é considerada uma grande “escola de jornalismo feminino”, devido ao seu quadro de publicações destinadas ao público feminino. Vale destacar que se incluem no universo das revistas femininas tanto aquelas voltadas às mulheres adultas, como as dirigidas a um segmento mais jovem.

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